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O que as crises nos ensinam

O estranhíssimo 2021 vai caminhando para seu final e o cenário político, econômico e social brasileiro não é nada amigável. A inflação chegando a 2 dígitos, a queda na renda das famílias, uma crise hídrica e energética se aproximando, dólar alto e menores investimentos no país, já são uma realidade. Tudo isso em meio a um contexto político e sanitário especialmente turbulentos.

Estamos realmente numa situação delicada e preocupante ... mas não inédita.

Quem tem 50 anos ou mais sabe que já passamos por crises piores, em diferentes momentos da economia brasileira. E saímos vivos de todas elas.

Desde o plano Cruzado (1986), passando pelos planos Bresser (1987), Verão (1989), Collor 1 (1990) e Collor 2 (1991), com troca de moeda, corte de centavos, divisão por mil, volta dos centavos... um verdadeiro inferno (imaginem o quanto ralaram os profissionais de TI).

Em meio a essa anarquia, a inflação comendo o salário dos brasileiros com uma fúria que chegou a bater inacreditáveis 80% ao mês. A cada novo plano menor era a confiança do mercado e dos consumidores em seu sucesso. Mas, calma que tem mais.

Tivemos também sucessivas crises políticas, desde a morte de Tancredo Neves (pouco antes de assumir a presidência em 1985), até o impeachment de Fernando Collor em 1992. Instabilidade política, social e econômica na veia.

Mas nem por isso deixamos de trabalhar e confiar. E a solução acabou vindo a partir da elaboração e implantação do Plano Real (1994), estabilizando a economia e iniciando um período de crescimento e prosperidade contínuos, que se estendeu até 2012.

O momento, no entanto, é de aumento da desigualdade social e menos dinheiro circulando no mercado. As classes C, D e E tiveram redução brutal de renda e estão sofrendo muito. Já nas classes A e B temos famílias com alguma redução de renda, mas muitas com crescimento, o que deve provocar um consumo seletivo, voltado a produtos de melhor qualidade e valor. A tendência é que produtos mais populares entrem em guerra de preços para brigar pelo consumidor mais atingido. Lembrando que a COVID ainda deixará um efeito residual por muitos meses, dificultando uma recuperação mais rápida.

Com isso, não haverá mais espaço para “barbeiragem”, sobretudo nos segmentos mais afetados pela recessão. Empresas com gestão ruim, desconhecimento de seus números, operação ineficiente e desatenção ao cliente, vão quebrar (já estão quebrando, na verdade). As ações habituais de demissões e cortes de despesas irrelevantes não serão a solução. Mas podem haver muitas luzes no túnel.

Este cenário abre espaço para a chegada de uma nova geração de empresas: menores, focadas, éticas, solidárias, ágeis, móveis, sustentáveis, inclusivas, com gestores mais preparados, nascidas ou expandidas em meio à uma pandemia que paralisou o planeta, portanto, prontas para crescer e prosperar na escassez. Geralmente responsáveis pela maior parte das vagas de trabalho do país.

Com elas, um novo holograma de fornecedores, clientes, parceiros e colaboradores, com identidade de princípios e valores.

Quem sabe um novo efeito ‘Noé’ na economia brasileira?

Como brasileiros já habituados a situações adversas, vamos seguir fazendo nosso melhor.